

Análise cultural, Análise de linguagem, Neologismos
A mudança social e as novas palavras
A sociedade tem mudado depressa. Há novas famílias, novos hábitos, novos conceitos de escritório, novas formas de alterar o corpo e novos alimentos. Agora, para ser possível partilhar e legitimar tantas mudanças, é necessário criar e difundir neologismos.
A sociedade tem mudado depressa. Há novas famílias, novos hábitos, novos conceitos de escritório, novas formas de alterar o corpo e novos alimentos. Agora, para ser possível partilhar e legitimar tantas mudanças, é necessário criar e difundir neologismos.
É, hoje, comum muitas crianças coabitarem sem partilharem progenitores. Não existe termo para esta familiaridade sem biologia. Como falta uma palavra, usam-se descrições longas, cheias de negações, bastante exigentes para quem escuta. Vejamos um exemplo: “Não é meu irmão, mas é como se fosse. É fruto do primeiro casamento do meu padrasto e eu sou fruto do primeiro casamento da minha mãe. Hoje, tenho uma meia-irmã do segundo casamento da minha mãe e um irmão do terceiro casamento do meu pai. Com este ‘irmão’ não partilho nem a minha mãe nem o meu pai, mas, na prática, partilhamos anos de vivência conjunta, por causa da união da minha mãe com o meu padrasto.” Não só não dispomos de termos que explicitem, numa só palavra, o tipo de parentesco entre estes novos irmãos como, depois, esta relação gera “novos tios”, “novos cunhados”, “novos avôs” e “novos tios-avôs”.
A língua necessita integrar possibilidades concisas, e claras, para descrever as novas relações familiares. Logo porque se devem evitar explicações extensas. Mas, sobretudo, porque os neologismos atribuem importância às novas relações. As novas palavras são legitimadoras. Ou seja, enquanto não existir um novo termo para os “novos irmãos, que não são irmãos de sangue, mas são como se fosse, porque cresceram em conjunto”, a cultura não está a dar a devida importância a esta relação. Proposta?
“Dirmão”
São os irmãos originados por um divórcio. Enquanto os irmãos biológicos pertencem ao casamento, os “dirmãos” pertencem às segundas e às terceiras famílias. Fazem parte das novas estruturas familiares, diluídas, horizontais e feitas de várias uniões. E como urge organizar as novas relações, normalizar o divórcio e nomear os novos parentescos, recomenda-se o uso do prefixo “dir” noutros neologismos:
o “dirmão” e
o “dirvô”, a “dirvó” e o “dirtio”
Os neologismos são um caminho precioso para mudar comportamentos, partilhar novas ideias, novas categorias, novas áreas de interdição e novas fronteiras. Afinal, em qualquer cultura, quando uma ideia é importante, ela possui um termo, não extenso ou composto por duas palavras, mas, unicamente, um termo.